Existem autores que
defendem que para que uma pessoa reconheça o “eu” terá que estar “na presença
do outro”, ou seja, do “não-eu”. A mesma ideia que existe noutros dualismos –
só sei o que é o alto se conhecer o baixo, o gordo por oposição ao magro, entre
outros dualismos.
Desta forma, cada pessoa
(ser consciente) é, ao mesmo tempo, “eu” (para si mesmo) e “outro” (para as
outras pessoas).
Será que sabemos quem
somos?
Quantos de nós já fez
esse pequeno (grande) exercício de autoanálise?
Apesar de já termos tido
contacto com a culpa, a vergonha ou remorsos, não paramos para refletir o que
nos faz sentir dessa forma...
Por que estou assim? O
que sinto? O que desejo? Quais os meus valores? Por que razão reajo desta ou
daquela forma?
As respostas a estas e
outras questões são fundamentais. Devemos auto-explorar quem somos,
auto-investigar e auto-conhecer… dissecar o Eu. Devemos, sempre que possível,
refletir sobre a forma como pensamos e sentimos...
Fomos educados para saber
a resposta e não para saber fazer a pergunta certa.
Esta cultura de resposta
criou no homem a falsa sensação que sabe a resposta de (quase) tudo... não se
questiona. Não fomos educados a questionar, e muito menos a questionar para que
possamos ter um melhor auto-conhecimento.
Normalmente, o Eu ocupa
grande parte do nosso tempo. Se alguém diz que está cansado dizemos – também
eu. Temos necessidade de competir e ainda nos queixamos que ninguém nos dá
atenção, que não nos ouvem nem dão valor… sempre o Eu… o meu Eu que tudo pode e
é melhor que o teu Eu… tanto eu e praticamente ninguém sabe quem é o seu Eu.
É um lugar comum
avaliarmos a conduta dos outros, fazermos juízos de valor sobre o comportamento
dos outros, ditando leis do alto do nosso pedestal de sapiência, ébrios de
certezas, sem que, contudo, nos conheçamos a nós mesmos.
Quando opinamos somos
transparentes e dizemos aquilo que realmente pensamos ou dizemos aquilo que na
nossa opinião o outro quer ouvir…. Somos honestos ou politicamente corretos.
Agimos por convicções e
ideais ou de acordo com a ética, a moral e a lei?
Quando o tema é racismo
ou homossexualidade qual a resposta mais comum? Não sou racista nem homofóbico
porque até tenho um amigo preto e um amigo gay.
Monogamia? Claro que sim! A resposta moralmente aceite e esperada… Contudo, se
fosse honesta não teríamos tantos episódios de traições, infidelidades ou
adultérios.
E, provavelmente, se fizéssemos
uma viagem ao centro do Eu iriamos encontrar um animal com desejos promíscuos castrados por uma construção social de projeto de vida monogâmico.
Na minha opinião, quando
nos apresentamos escolhemos aquilo que queremos dizer a nosso respeito.
Fazemo-lo a pensar naquilo que, na nossa opinião, o outro quer saber sobre nós…
Agora que leio a breve apresentação
que fiz há cerca de 25 anos sobre a minha pessoa, fico com a sensação que ainda
não teria feito a viagem ao centro do meu Eu… ou simplesmente estava alcoolizado
ou a precisar de mudar de fornecedor…
É estranho voltar a
escrever neste blog… espero ter motivação e criatividade suficientes para
alimentar mais uma vida deste espaço de boa memória.
Mas uma coisa é certa, já
fiz várias viagens ao centro do Eu e, em boa verdade, os níveis de parvoíce continuam
elevadíssimos!